domingo, 10 de dezembro de 2017

Expressões Partitivas e Concordância Verbal

Como o próprio nome diz, "concordância" é harmonia. Mas, seja na língua coloquial ou formal, nem sempre a combinação entre sujeito e verbo acontece de maneira apropriada. É comum que o verbo apareça no singular, quando deveria estar no plural, ou que esteja no plural, quando deveria estar no singular.
Veja esses exemplos:
"A maioria dos atores são moradores da própria favela".
Sabe-se que, se o sujeito é "A maioria" (e não "A maioria dos atletas", "A maioria dos deputados", "A maioria das mulheres" etc.), o verbo deve ficar no singular: "A maioria preferiu ficar na sala"; "A maioria quer mudanças"; "A maioria gostou do filme".
A dúvida ocorre quando termos como "maioria" ou "parte" (e outros de mesma natureza) vêm seguidos de especificadores postos no plural. Nesse caso, o que decide a questão não é uma regra rígida, inflexível; é o bom senso. A escolha da forma verbal depende basicamente do que se quer enfatizar, ressaltar.


Em "A maioria dos jornalistas mostrou preparo para sabatinar o candidato", a opção por "mostrou" enfatiza a noção de conjunto, de grupo, representada pela palavra "maioria". Essa é a concordância lógica, já que é da norma geral que o verbo concorde com o núcleo do sujeito.
Caso se optasse por "A maioria dos jornalistas mostraram...", dar-se-ia destaque para os formadores do grupo ("os jornalistas"). A questão fundamental é saber se de fato há necessidade de enfatizar os formadores do grupo, já que a concordância natural é feita com o verbo no singular. Formas como "A maioria dos eleitores compareceu" ou "Grande parte dos motoristas desconhece o básico do básico das leis de trânsito" talvez soem mais naturais do que "A maioria dos eleitores compareceram" ou "Grande parte dos motoristas desconhecem...".


A coisa pode mudar de figura quando se trata de verbos como "ser", "estar", "ficar" etc. Com eles, a obediência à concordância lógica nem sempre gera bons resultados. Veja-se a frase citada no início deste texto ("A maioria dos atores são moradores da própria favela"). Siga-se a concordância lógica e se chegará a isto: "A maioria dos atores é moradora da própria favela".
Que tal? A decisão é de quem escreve ou fala, já que as duas formas ocorrem na língua padrão, mas a opção por "é", que concorda com "maioria", impõe a necessidade de estender o critério à concordância do predicativo ("moradora"), o que talvez soe um tanto "estranho". Como quem efetivamente mora são os atores, parece que a opção por "A maioria dos atores são moradores da própria favela" é mais natural do que a opção por "A maioria dos atores é moradora...".


O que foi dito a respeito de "A maioria" se estende a "Boa parte", "A maior parte" etc. Frases como "A maior parte dos homens examinados é portadora da infecção" ou "A maioria dos trabalhadores dessas regiões está contaminada" talvez sejam naturalmente substituídas por "A maior parte dos homens examinados são portadores da infecção" ou "A maioria dos trabalhadores dessas regiões estão contaminados".
Insisto que a escolha é sua, mas a regra geral de concordância verbal é que o verbo deve concordar com o sujeito, em número (singular/plural) e pessoa (1a. , 2ª. ou 3ª. pessoa). Mas, como o uso da língua é muito amplo, existem algumas regras específicas.  Esse é o caso da concordância em orações em que há expressões partitivas, como “a maioria”, “a minoria”, “grande parte”.

“A maior parte dos colaboradores aderiu à greve.”(singular)

“Mais da metade dos funcionários não compareceram à reunião.” (plural)

Na primeira oração, o verbo está no singular; na segunda, está no plural. Ambas corretas.

A explicação para a ocorrência do verbo no singular ou no plural nesses casos, é que o verbo pode ser conjugado das duas formas.

“A menor parte dos participantes não gostou/gostaram do curso.”

“Boa parte dos integrantes concorda/concordam com a política do grupo.”

“Menos da metade dos monitores lembra/lembram daquela aluna.”

Mas há uma sutil diferença de sentido:

a)    conjugar o verbo no singular, dá ênfase à noção de conjunto, de grupo (foco na expressão “a menor parte”, “boa parte”, “menos da metade”).

b)    conjugar no plural, enfatizam-se aqueles que formam o grupo ( “participantes”, “integrantes”, “monitores”), ainda que esta seja a forma incomum de redigir esse tipo de oração.

Como recomendação, dê preferência ao uso do verbo no singular quando redigir orações com expressões partitivas, por ser a mais usual. Mas saiba que tanto a versão no singular quanto no plural são aceitas gramaticalmente.

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