terça-feira, 28 de outubro de 2014

Não Perdi Nada

Não foi perda de tempo, como generalizou o Gregório em sua coluna de hoje (27/10/2014) na FSP.(http://bit.ly/1FQ6PZY)
Participei de algumas discussões políticas recentemente [talvez uma dezena], nas proximidades das eleições presidenciais de 2014. Assisti integralmente a cerca de 80% dos debates da televisão, com exceção ao último do segundo turno, do qual apenas pude ver o replay dos “melhores momentos” – na valiosa internet. Foram umas vinte horas atento a isso.
Empreguei outras tantas (horas) em leitura de jornais, sites, colunas aleatórias e revistas – de todos os “lados”. Sim, não há publicação idônea – vivamos com isso! Viajei, por fim, 1.400km em dois turnos, para exercer meu direito-dever; foram cerca de dezessete horas na empreitada dos trajetos, enfrentando as filas e votando.
Não perdi nada, não. Não perdi tempo. Não perdi os votos. Não perdi amigos. Não perdi a linha em nenhum momento. A (minha) esperança, aquela de sempre, só ruiu quando a primeira parcial foi revelada, pouco depois das 20h, mostrando uma diferença pequena (50,99% x 49,01%) a favor da situação, já com mais de 90% da apuração encaminhada. O número surgiu aos olhos, no aplicativo do TSE para celulares (20s antes da TV!), como um murro, bem dado, na boca do meu estômago. Nauseei, mas era preciso respirar. Acompanhei o restante do escrutínio, F5 detrás de F5, até a consagração do eleito – ou reeleita, mais precisamente.
Vitória incontestável. Éramos mais 142 milhões de votantes; 30 milhões dos quais (21%!) não apertaram o verde ontem. Democracia se fazendo lei, apesar da ausência de um em cada cinco brasileiros. Pelos dados, vê-se que a região Sudeste contribuiu decisivamente para o resultado. Chorem, esperneiem, revoltem-se. Os números são o que são.
As publicações digitais que sucederam a confirmação da reeleição da presidente, feita pelo TSE perto das 21h, merecem um capítulo de um livro – se não (em) vários deles – por algum cientista político ou estudioso de sociopolítica e comportamento humano. Alguém que possa ir até as zonas mais abissais do pensamento de seres humanos, especialmente daqueles que se revelaram extremamente cruéis e impiedosos. Tremenda falta de esportividade, para arrematar meu diagnóstico. Espécimes que, quem sabe, deveriam ser desclassificadas do reino e espécie a que um dia foram catalogados. Assim como os bandidos que depredaram a sede da revista Veja, e por pleno merecimento!
O que se viu nas redes sociais (extensão de nossas vidas reais e que, por isso, representam quem somos) foi, pra mim, apavorante.
Um ódio desmedido, uma série de inverdades encimadas por impropérios chulos, onde xenofobia era “arroz com feijão”. Acusações de ambas as partes, um festival de boçalidade. Havia excesso de ego e escassez de oxigênio – vital ao raciocínio. Gente incitando violência e até… o impeachment* da presidente reeleita. Quem acha que ganhou, por falta de lucidez. Quem acha que perdeu, por despeito.
*Não que não possa ocorrer, diga-se. Mas antes, é preciso que o congresso se sinta ameaçado. Até lá, há um bom caminho.
Imaginem: algumas dessas pessoas cogitaram separações geográficas no país, através… de um muro! Outras alegaram não ter mais orgulho da nação e não mais querer viver por essas bandas. Entendo o sentimento, a decepção e a derrota. A incivilidade, não. E tampouco compartilho do ódio ou da forma com a qual eles foram revelados. Estou tão ou mais descontente com o resultado do que eles, mas não há como compactuar com tamanha irascibilidade. Tudo era dicotomizado, como se assim pudesse ser. Reduziam-se, inaptamente, o entendimento e a explicação de fenômenos complexos ao conteúdo de “uma linha”, por vezes mal escrita. A generalização a desserviço do mundo – e de forma desencorajadora. Nota mental: há ainda um Everest de coisas a serem ensinadas às minhas filhas.
Mais da metade do país (representado aqui pelos que compareceram às urnas) se mostrou desconfortável e, logo, contra a situação. Somando-se os votos brancos, os nulos e os contrários à reeleição, foram 58 milhões de “confirma” não precedidos do número 13. Precedidos dele, 54 milhões. Mensagem de abrangência e importância inquestionáveis, dando conta de que a maioria da população não é conivente e não está feliz, entre outros, com a corrupção e a ineficiência econômica do país. Conceder voto ao partido que tem parte da liderança presa e que, segundo se apura, foi o maior aparelhador do Estado é – de fato – prá lá de preocupante. Há mais: até 2018, o partido dos trabalhadores terá nomeado, entre outros cargos, dez dos onze ministros do STJ, passando a reinar também no órgão judiciário máximo da nação. Uma lástima não termos promovido a troca do comando, cujas consequências são desconhecidas e amedrontadoras. O mesmo se aplica para o monopólio instalado no governo do estado de São Paulo.
Mesmo assim, não acho correto nem consigo julgar o voto das pessoas sem sê-las. Parece óbvio, mas não é; ainda que eu não entenda ou não concorde com elas. Sinto-me incapaz de fazê-lo sem considerar o que elas consideraram e sem, “polianamente”, sofrer o que elas sofrem [usando a acepção neutra do verbo sofrer]. O único que eu conseguiria fazer seriam análises simples de algumas relações entre os fatores regionais, a possível influência das pesquisas nos resultados, o “quem-sabe” poder dos debates e o temido alcance das mídias sobre as pessoas. Correlações que busquei entender, mas elas não são o objetivo desta argumentação.
Não conseguiria fazer aqui também críticas à igreja ou às milícias (leiam o texto do Gregório), sem ser do ou viver no Rio de Janeiro. O resultado em Minas Gerais é outra análise complicadíssima, frente à qual me sinto um cego tateando uma bula qualquer.
Na manhã seguinte ao resultado, acordei triste, um gosto amargo na boca, em uma espécie de depressão pós-pleito; batizei-a logo de DPP. Quisera que ela fosse fruto apenas da derrota do ‘meu’ candidato. Porém, a anos-luz disso, ela nasce e cresce exponencialmente na revelação da incapacidade de compreensão, diálogo e da postura desprezível de alguns brasileiros conhecidos (meus).
Definitivamente, no meu caso e apesar da ressaca moral, não perdi nada, Gregório.
[Guilherme Carloni, Out’14]

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Adeus ao Tio Nege


Não há um vocábulo sequer que minimize o pesar de uma perda.  É um momento extremamente solitário, que requer espaço para a tristeza, espaço para algo que não tem remédio e acontece, de vez em quando, com todos nós.

A lei da entropia continua “linha dura”: tudo lentamente se desgasta, o corpo enfraquece, os anos deixam marcas, as doenças nos tiram, irrefreavelmente, nosso capital vital. É a lei da vida que inclui a morte.

Há momentos que somos tomados por uma enorme sensação de inutilidade, de vazio. Morremos um pouco, cada vez que perdemos um ente querido. E como era querido esse meu tio!

De repente ele se foi. Foi morar com Deus. Deixou esse mundo para ocupar o melhor dos lugares, que deve ser reservado a quem tudo deu e fez para ganhá-lo. Partiu, mas será sempre lembrado pela vontade de vencer, por seu gosto pela vida, e, principalmente, pela alegria com a qual saudava àqueles a quem amava, com todo o carinho que a eles dirigia.

Pensei em registrar aqui algo significativo, como, por exemplo, os felizes momentos nas incontáveis viagens que fizemos por esse país. Nas praias, com toda a nossa família, o pão quentinho e o café da manhã eram, religiosamente, garantidos por sua ‘conta’. Da Praia Grande a Manaus, do Rio de Janeiro a Brasília, de Guarapari a Florianópolis, lá estava ele, sempre tão presente e prestativo,, em todos os momentos da nossa vida. Nunca esquecerei o prazer dessa companhia.

Há exatos dois meses, quando o vi pela última vez, passamos momentos tão alegres, que ainda causam-me muita emoção. Levarei comigo, todas as palavras, as mais doces lembranças, incontáveis conselhos, sorrisos pacificadores e um real aprendizado do amor incondicional.

Guardarei para sempre o seu semblante humilde , o seu jeito brando, sua presença amiga e todos os seus ensinamentos de tio, padrinho, amigo, confidente, irmão, por muitas vezes pai, parceiro, companheiro, um GRANDE HOMEM, que para sempre será.

Creio verdadeiramente, que Deus o escolheu como companheiro, porque somente os filhos especiais se tornam anjos celestiais.
Acolha-o no teu reino de paz, Senhor, como uma oração de gratidão, por ter feito dele, uma das grandes alegrias da minha vida.

Jamais te esquecerei, meu querido tio Nege.


Profundamente sensibilizada.
Zilda Carloni
01.01.2014

Mãe Querida,

Há quase três anos, 30 de abril de 2017, vivenciamos juntas a triste partida do seu grande e inseparável companheiro, meu amado pai. Aos pr...