sábado, 26 de novembro de 2011

Texto do Superinterminável


SUPERINTERMINÁVEL
Parece que estou ouvindo minha mãe dizer que eu deveria agradecer a Deus pelo fato de poder ir ao supermercado e por ter um supermercado para ir. Mas eu agradeço, também por isso!
O problema é que eu não desfruto de talento para a coisa. Sofro do mal chamado “Resistência de Supermercado”. Sou uma cardiopata daqueles corredores gigantescos e das filas intermináveis. É muita demora para comprar apenas alguns itens. E também sempre há uma dúvida de preço, de produto, de promoção. Só revisar a validade de cada produto posto no carrinho é uma trabalheira danada.
Viciei nos mercadinhos feito para as urgências. É da infância o registro sonoro: “vai ali e compra um quilo de tomate, pó de café, uma lata de salsicha e um guaraná.” Miudezas que completam a despensa, naquele instante em que todo atraso estragará o ponto da comida.

Volto em cinco minutinhos. Não é necessário enfrentar nada nem ninguém no meio do caminho, nem dentro do mercadinho. Nem as malditas filas, esbarrões, são cem metros livres e desimpedidos.
Já fui muitas vezes ao supermercado. Para fazer compras e também só para analisar os outros. Percebi que há pessoas que consideram o supermercado uma arte. Procuram a perfeição. Acho que algumas mulheres pretendem superar a mãe introjetada, e não dar a mínima chance para sogra. Não buscam correr. Há uma diferença entre se preparar e apressar. Elas se preparam para o ato. Valorizam o ritual, reparar, comparar, comentar novidades, é regra começar a andança pelo setor predileto para terminar por aquele que menos as agradam. Há aquelas que consideram esquecer um item como um pecado, esquecer dois é um desastre. Passam horas reclamando e se mortificando da falha. Têm um aproveitamento de 98%, mas não se aquietam.
Para algumas mulheres, o supermercado deve ter sido a praça da infância. O parque de diversão. Ficam tão à vontade que consomem aquilo que estão comprando. É uma relação atávica de criança, a fome faz parte da motricidade: balançar e comer pipoca, andar de gangorra e comer algodão doce.

 Algumas escolhem as uvas, pesam e vão degustando uma por uma até o fim enquanto passeiam pelos corredores. Depois abrem um pacote de salgadinhos e o esvazia antes de passar no caixa. Sem contar a mão cheia de pãezinhos de queijo já consumidos na fila do pão. Comem no mercado porque se sentem em casa. É o único lugar em que não falta nada.
Os homens são totalmente objetivos. Em tudo. Vão pegando, pegando e andando como se fosse tudo de graça. Não importa a marca ou o tamanho. Não comparam os preços dos produtos similares. Precisa? Então pega!

Confesso que de todas as tarefas do meu dia a dia, ir ao supermercado é a mais penosa. O que me apavora não são apenas as filas intermináveis, é que ele é uma lei de Murphy permanente.
Sempre compro algo que não preciso, o estacionamento está sempre cheio e num corredor tinha vaga, o caixa (escolhido a dedo) sempre acende a luz e precisa de um troco, esse mesmo caixa sempre demora mais que o do lado. O empacotador sempre coloca o detergente junto com o queijo, e sempre esqueço algo que precisava.
Quando faço a tal listinha, sempre a esqueço em casa ou no carro, ou esqueço um item que precisava estar na listinha. A rodinha do meu carrinho sempre está quebrada e o cara da frente, na fila interminável do pão, pede, no mínimo, 80 pães. Sem contar aquele negócio de “prova” grátis, que sempre acaba na minha vez.
Quando entro no supermercado, pergunto a um funcionário onde fica tal produto e ele sempre faz aquela cara de não-entendo-sua-língua, olha para as ilegíveis plaquinhas (coisa que eu já fiz, mas o estúpido acha que não) e me manda pro corredor mais longe que existe, e, lá alguém pode ser que me ajude....e o mais irritante, repito: as filas intermináveis.
Sobre o caixa, não falo quase nada: É uma fila filha da fila, um povo mais mal humorado que eu, a fita do papel que acaba, a falta de um código, a digitação errada de um preço que depende de um supervisor para ser corrigida... é o fim!
E ainda me perguntam por que eu não gosto de supermercado. Pode ser tudo isso, mas não é. Eu não sei o porquê, mas eu não gosto, aliás, eu odeio! Pode ser por ter que batalhar por uma vaga no estacionamento, tirar coisas da prateleira, colocar no carrinho, tirar do carrinho, colocar no caixa, tirar do caixa, colocar nas sacolas, pegar as sacolas, colocar outra vez no carrinho, tirar do carrinho, colocar no carro, tirar do carro, colocar na cozinha, tirar das sacolas, colocar no armário, na geladeira, no banheiro..... Aaaahhhhhh,  detesto!
E as filas, então? In-ter-mi-ná-veis...
Ir ao supermercado? Agradecida, mamãe!
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Mãe Querida,

Há quase três anos, 30 de abril de 2017, vivenciamos juntas a triste partida do seu grande e inseparável companheiro, meu amado pai. Aos pr...