quarta-feira, 22 de abril de 2020

Mãe Querida,

Há quase três anos, 30 de abril de 2017, vivenciamos juntas a triste partida do seu grande e inseparável companheiro, meu amado pai. Aos prantos, pedíamos ao Espírito Santo conforto e consolo aos nossos corações, com a mesma esperança dos que acreditam que, por merecimento, ele já estivesse habitando no abrigo de Deus. 

Hoje, 22 de abril de 2020, choro sozinha a ausência dos trinta dias da sua partida e renovo o mesmo pedido ao mesmo Espírito Santo, na certeza da fidelidade do Pai celestial.

Os meus desejos vão aos céus de joelhos, Mãe, para que Deus a tenha acolhido sob as SUAS asas do amor, que você esteja ao lado do seu velho companheiro, e que eu sinta a paz que somente Jesus pode dar.

Saudade eterna de um amor infindo. Único.







segunda-feira, 23 de março de 2020

Quibe com amor no céu.


                                           [foto de Ago/19]



Por @GuiCarloni

“Com o coração devastado, tento escrever alguma coisa assim que soube. Atitude (um pouco inexplicável) que encontrei para me acalmar. Talvez - pensando agora ao reler - seja algo que se conecte um pouco a ela e à devoção que ela tinha por ler. É o fim de uma era.

Quis o destino, o céu, ou sei lá quem/o quê, que o maior coração do mundo batesse hoje, pela última vez. Encerra-se, que pena, a vida da dona Salima.

Uma vida inteira dedicada “aos outros”; fez sua existência em sujeição, benevolência e doação. Jamais, nunca, em nenhuma hipótese deixou de fazer algo por alguém. Mestre em se adiantar às necessidades alheias, era exatamente isso que a fazia feliz: servir. O sorriso farto, sincero e a alegria ao redor da mesa, casa sempre lotada. Assim viveu até quando conseguiu, sem nunca se queixar. Que ser humano formidável!

Desde uns dez anos pra cá, já não tinha os movimentos dos dedos e mãos completamente perfeitos, vítima de reumatismo, artrites e toda sorte de complicações que a idade traz, mas nunca faltou capeletti (artesanal) vindo daquelas mãos cada vez mais encarangadas. Pernas, ombros e braços reumáticos, por anos..., mas bolos, roscas e pães abundavam naquela mesa. Madrugadas desperta para coser e cozer, ignorando as dores, que não eram poucas. Mobilidade limitada até o último dia, mesa farta até o último minuto. Presentes para todo mundo e presente em “todo o mundo”, em todas as ocasiões, driblando as limitações. Coração latifundiário, brincávamos.

Naquele coração coube amor aos pais - a quem sempre se referiu com ternura -, aos tios, aos 11 irmãos - de quem cuidou carinhosamente -, ao marido - a quem daria o próprio ar -, aos 3 filhos - por quem tinha loucura -, aos 5 netos - aos quais daria a vida - e aos 7 bisnetos - suas últimas grandes paixões. Mas também coube amor a muitos amigos, a todos os parentes e seus “agregados” - até os mais remotos laços consanguíneos -, a todos os funcionários, colaboradores, cuidadores e, vou dizer, sobrava espaço para mais. Ela era capaz de qualquer esforço por qualquer um! A qualquer hora. Por vezes, até nos zangávamos com tamanha devoção, mas era aquela a sua missão! Lições.

Dizia-nos sempre, ente muitos dos ensinamentos ou ditados (alguns em árabe): “não corram, não matem, não morram!”

Lições às quais fui submetido desde sempre; criado e educado pelos meus pais e com meus avós maternos operando como balizas importantíssimas neste processo. Passei, com minhas irmãs, muito tempo da infância e juventude sob a co-tutela de Emílio e Salima. A eles nutro(imos) carinho de “segundos pais”. A dor é proporcional.

Vai ficar a saudade. Enorme, doída e irreparável. Não tem como. Da mesma forma, ficarão as lições e o espírito jovem, incansável; junto daquela sua forma única de nos acolher, reunir, botar todo mundo sob suas asas e nos fazer rir, nos alimentar, um a um, com o prato preferido e o maior amor do mundo.

Obrigado por tudo, minha avó querida. Seguirei seus passos, seco por um último café com beijo....”

domingo, 16 de fevereiro de 2020

.

Você conhece alguém assim?
Seu nome está nas primeiras letras de todos os versos.
Única e imortal.

Obrigada Gui Carloni
Obrigada, mãezinha querida!

“.
Sinta hoje e diga hoje.
Acomode e acaricie.
Leve a vida com alegria.
Importe-se com o outro.
Mostre o quanto você ama.
Ame sem esperar troco.

Esteja sempre disposto.
Leia o que lhe aprouver.
Ignore o mal.
Abuse do bom humor.
Seja franco e honesto.

Ceda o passo.
Abra exceções.
Ria de si.
Leve algo em toda visita.
Orgulhe-se de sua família.
Não grite.
Invista na união.”

By @GuiCarloni
Gui Carloni

domingo, 12 de agosto de 2018

Pai

Por @GuiCarloni

Pai não tem gestação. Não sofre dor do parto. Não dá o peito. Se não quiser ou não puder, não troca, não dá banho, não cuida, não nina, não limpa, não dá colo, não orienta, não colabora, não alimenta, não conversa, não educa, não leva, não traz, não dá bom exemplo e não faz.

Tecnicamente, é “apenas” o responsável por 50% da geração de um filho. Na vida, a depender do ser, ele pode ser muito mais do que isso.

Porque pai cria. Pai provê. Pai educa. Pai esteia. Pai defende. Pai amamenta. Pai lê. Pai nina. Pai briga. Pai alimenta. Pai penteia. Pai despenteia. Pai choca.  Pai mistura. Pai separa. Pai apara. Pai repara. Pai para. Pai enxuga. Pai escova. Pai escora. Pai brinca. Pai pinta. Pai desenha. Pai borda. Pai monta. Pai desmonta. Pai remonta. Pai toma. Pai corre. Pai troca. Pai veste. Pai esquenta. Pai esfria. Pai cochila. Pai cochicha. Pai conta. Pai canta. Pai lava. Pai leva. Pai passa. Pai busca. Pai cobra. Pai apoia. Pai sofre. Pai medica. Pai negocia. Pai engoma. Pai perfuma. Pai prova. Pai faz. Pai desfaz. Pai refaz. Pai fotografa. Pai esculpe. Pai escreve. Pai arruma. Pai adorna. Pai contorna. Pai adora. Pai assina. Pai machuca. Pai assopra. Pai evidencia. Pai orienta. Pai gira. Pai vai. Pai volta. Pai espera. Pai mostra. Pai amostra. Pai refuta. Pai luta. Pai ouve. Pai opina. Pai fala. Pai colabora. Pai conduz. Pai dá. Pai tira. Pai ajuda. Pai entende. Pai envergonha. Pai desentende. Pai condiz. Pai embala. Pai contradiz. Pai ri. Pai chora. Pai paga. Pai liga. Pai apaga. Pai compra. Pai vende. Pai vê. Pai sorri. Pai conserta. Pai instala. Pai estrala. Pai endossa. Pai nega. Pai apega. Pai segura. Pai pega. Pai toca. Pai retoca. Pai vibra. Pai marca. Pai consulta. Pai sente. Pai assente. Pai pressente. Pai resume. Pai presume. Pai assume. Pai tenta. Pai inventa. Pai estimula. Pai exige. Pai exibe. Pai inibe. Pai empolga. Pai convida. Pai induz. Pai liga. Pai decide. Pai cozinha. Pai prepara. Pai dispara. Pai executa. Pai orquestra. Pai para. Pai acelera. Pai vangloria. Pai reprime. Pai constrói. Pai destrói. Pai esparrama. Pai recolhe. Pai guarda. Pai aguarda. Pai testemunha. Pai joga. Pai ora. Pai pede. Pai implora. Pai cede. Pai retrocede. Pai torce. Pai deixa. Pai culpa. Pai isenta. Pai perdoa. Pai azucrina. Pai erra. Pai berra. Pai estica. Pai pendura. Pai negocia. Pai equilibra. Pai assume. Pai absorve. Pai condena. Pai absolve. Pai resolve. Pai aconselha. Pai desaconselha. Pai imita. Pai limita. Pai pentelha. Pai almeja. Pai despeja. Pai enseja. Pai sonha. Pai alegra. Pai entristece. Pai envelhece. Pai esmorece. Pai adoece. Pai carece. Pai perece. Pai falece. Pai ama. Pai pai.

Feliz dia dos pais!

Guilherme Carloni
12/08/2018

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Mapa Linguístico do Brasil

“O R caipira do interior de São Paulo, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina deve-se ao fato de que os indígenas que aqui moravam não conseguiam falar o R dos portugueses, não havia o som da letra R em muitos dos mais de 1200 idiomas que falavam aqui.

Então na tentativa de se pronunciar o R, acabou-se criando essa jabuticaba brasileira, que não existe em Portugal.

A isso também se deve o fato de muitas pessoas até hoje em dia trocarem L por R, como em farta (falta), frecha (flecha) e firme (filme).

Com a chegada de mais de 1,5 milhão de italianos à capital de São Paulo o sotaque do paulistano incorporou o R vibrante atrás dos dentes, porta como "porita", e em alguns casos até incorporando mais Rs do que existem: carro como "caRRRo", se quem fala for de Mooca, Brás e Bexiga, bairros paulistanos com bastante influência italiana.

O R falado no Rio de Janeiro deve-se ao fato de que quando a corte portuguesa pisou aqui, a moda era falar o R como dos franceses, saindo do fundo da garganta, como em roquêfoRRRRt, paRRRRRi.

A elite carioca tratou de copiar a nobreza, e assim, na contramão do R caipira e 100% brasileiro, o Rio importou seu som de R dos franceses.

Do mesmo modo a corte portuguesa trouxe o S chiado dos cariocas, sendo hoje o Rio o lugar que mais se chia no Brasil, 97% dos cariocas chiam no meio das palavras e 94% chiam no final.

Belém do Pará ocupa o segundo lugar e Florianópolis em terceiro.

As regiões Norte e Sul receberam a partir do século 17 imigrantes dos Açores e ilha da Madeira, lugares onde o S também vira SH. Viviam mais de 15 mil portugueses no Pará, quarta maior população portuguesa no Brasil à época, o que fez os paraenses também incorporarem o S chiado.

Já Porto Alegre misturava indígenas, portugueses, espanhois e depois alemães e italianos, toda essa mistura resultou num sotaque sem chiamento.

Curitiba recebeu muitos ucranianos e poloneses, a falta de vogais nos idiomas desses povos acabou estimulando uma pronúncia mais pausada de vogais como o E, para que se fizessem entender, dando origem ao folclórico "leitE quentE".

Em Cuiabá e outras cidades do interior do Mato Grosso preservou-se o sotaque de Cabral, não sendo incomum os moradores falando de um "djeito diferentE". Os portugueses que se instalaram ali vieram do norte de Portugal e inseriam T antes de CH e D antes de J. E até "hodje os cuiabanos tchamam feijão de fedjão".

Junto com os 800 mil escravos também foram trazidos seus falares, e sua influência que perdura até hoje em se comer o R no final das palavras: Salvadô, amô, calô e a destruição de vogal em ditongos: lavôra, chêro, bêjo, pôco, que aparece em muitos dialetos africanos.

A falta de plurais, o uso do gerúndio sem falar o D (andano, fazeno), a ligação de fonemas em som de z (ozóio, foi simbora) e a simplificação da terceira pessoa do plural (disséro, cantaro) também são heranças africanas.”

do livro "Mapa Linguístico do Brasil" de Renato Mendonça e da Superinteressante desse mês.

segunda-feira, 30 de julho de 2018

”Reverência ao Destino

E viva Drummond! Viva!

Reverência ao destino

Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.

Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias.
Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.

Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir.
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso.
E com confiança no que diz.

Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação.
Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer ou ter coragem pra fazer.

Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado.
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende.
E é assim que perdemos pessoas especiais.

Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar.
Difícil é mentir para o nosso coração.

Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto.
Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.

Fácil é dizer "oi" ou "como vai?"
Difícil é dizer "adeus", principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...

Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida.
Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.

Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente só.
Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar, e aprender a dar valor somente a quem te ama.

Fácil é ouvir a música que toca.
Difícil é ouvir a sua consciência, acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.

Fácil é ditar regras.
Difícil é seguí-las.
Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.

Fácil é perguntar o que deseja saber.
Difícil é estar preparado para escutar esta resposta ou querer entender a resposta.

Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.

Fácil é dar um beijo.
Difícil é entregar a alma, sinceramente, por inteiro.

Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.
Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.

Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica.
Difícil é ocupar o coração de alguém, saber que se é realmente amado.

Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho.

Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Minas Gerais

Já rodei muito na vida,
Quase o Brasil inteiro
Estradas do norte e do sul
Sem ter nenhum paradeiro.
Mas vou contar uma coisa
E nisso sou bem verdadeiro
Se o mineiro sai de Minas
Minas nunca sai do mineiro

E não pode sair mesmo
Digo de um jeito maneiro
Depois de conhecer o Brasil
Eu posso dizer bem faceiro
Que quem conhece Minas,
Conhece o Brasil inteiro
E orgulhar-se de ser de Minas
É orgulhar-se de ser brasileiro.
Veja o Norte de Minas
Igual a cearense Icó
Tanta seca e pobreza
Que faz qualquer um sentir dó
Aquele calor e secura
Lembra o sertão Seridó
Ali é praticamente o Nordeste.
Só que “um cadinho mió”

Sim, Minas também tem nordeste
Jequitinhonha, dizia minha avó.
Gente aguerrida e guerreira
Que sempre agüenta o jiló
Mas que sabe descansar sossegado
Pescar, esperar o anzol.
Parece o povo baiano
Só que um “cadinho mió”.

Mas é no vale do Mucuri
Que a terra parece de um faraó
Lá tem gente honrada e honesta
Que não vai para o xilindró
Lá o pessoal aproveita de tudo
Dá valor até ao mocotó
Parece muito a Paraíba
Só que é um “cadinho mió”

E o povo do nosso Rio Doce
Povo moreno queimado do sol
Mas que trabalha na terra
Quieto poupando o gogó
Naquelas terras bonitas
Canta alegre o curió
É um pedaço do Espírito Santo
Só que um “cadinho mió”.

E na zona da Mata
Antes, lá era o cafundó.
Hoje tem gente que pensa
Que lá só é festa: samba, baião, carimbó
Mas lá se trabalha bastante
Não pense que é só futebol
Lá é igual o Rio de Janeiro
Só que um “cadinho mió”.

E o nosso sul de Minas
Perseverante como o profeta Jó
Gente que não teme o trabalho
Num labor de sol a sol
Terra de gente importante
Vestida de gravata e paletó
Parece o povo paulista
Só que um “cadinho mió”.

E o povo cafeeiro
Com os pés sujos de pó
Não têm medo de nada
Neles ninguém dá o nó
Café com leite no Brasil
É o nosso grande xodó
Parece o sul de Brasil
Só que um “cadinho mió”

O povo do Triangulo
Que usando um braço só
Derruba um boi pelo chifre
Faz dele um simples totó
È um povo esperto e matreiro
Que não perde tempo fazendo filó
Igual o povo do Mato Grosso
Só que um “cadinho mió”.

E nas nossas Cidades Históricas
Tudo no estilo rococó
lugar de gente ilustre
Tiradentes, Juscelino, Zé Arigó
Terra de revolução e de luta
Inconfidência, revolta, quiproquó
Poderia ser a capital do país
Só que um “cadinho mió”

E no Alto Paranaíba
Café, pães de queijo e de ló
De frutas gostosas, o abricó
Lugar de aves campeiras
A ema, o pavão, o carijó
Lugar de festas famosas
Rezas, danças, forró
Parece muito Goiás
É só um “cadinho mió”.

Se em Minas está o Brasil
Em Belo Horizonte o Brasil é um só
Mineiro de todos os lados
Juntos, amarrados com grande nó
Aos pés da serra do curral
Pertinho da serra do cipó
Não deve nada pra nenhuma capital
Só que a nossa é MUITO E MUITO MIÓ.

Mãe Querida,

Há quase três anos, 30 de abril de 2017, vivenciamos juntas a triste partida do seu grande e inseparável companheiro, meu amado pai. Aos pr...