domingo, 10 de fevereiro de 2013

Portão 11


Salão de embarque.
Um casal dialoga.
Segunda-feira [muito] cedo.
Ela não tira férias há três anos.
Por cinquenta minutos.
Espero o primeiro voo.
Ela chegou primeiro.
Antes do que eu, inclusive.
Toma suco de laranja.
Falam da contratação dele, prestes a cumprir um ano.
Vestes informais.
Sapato preto com brilhos dourados.
Bebo água.
Ele traja jeans e camisa do dia-a-dia corporativo.
E trouxe um terno embalado.
Ela, alguns quilos de sobrepeso.
Come uma salada de frutas.
E tem formação green belt.
Confiro meus e-mails.
Trabalha um pro outro.
Ele pra ela.
Sentados estamos.
Ele é diretor.
Casado.
Dela, não se pode afirmar.
Em uma empresa farmacêutica.
Vamos para Cali.
Ela usa dois celulares e um tablet.
Cuidam de compliance.
Ele tem problema nos óculos.
Não é na Schering.
Não é na Merck.
Ele veio da Merck.
Ele tem “crianças” e não viajarão no Carnaval.
Ele fala mais que ela.
Não é na Sigma.
Ela gosta da Bahia.
Nem na Solvay.
Ele, Gustavo.
Uns 38.
Ela, Cris.
Cris, só Cris ou redução de outro?
Aparenta 35.
Observar sem ser notado.
Reveladora e divertida arte.
Última chamada.
O portão 11 nos engoliu.


@GuiCarloni Fev/2013

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