segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

“O meu amigo...”

                                                                           "O meu amigo..."
 
Pronto! Chegou o fim do ano. E, com ele, invariavelmente, vem toda a parafernália que condecora os sentimentos de ‘tchau, ano corrente’ e ‘benvindo, ano próximo’. Quem já me leu [perdão!] dissertando sobre o período Natal/Réveillon sabe que estou longe de ser um entusiasta das Festas. Não há nada que, honestamente, por três décadas e meia, haja me convencido a destacar Dezembro na dúzia de meses, nem a considerar os dias 24, 25, 31 e/ou o 1° Jan de alguma forma mais importantes do que seus três outros centos e meio de irmãos. Todos com suas 24 horas e alguns minutos. Sem muita pesquisa antropológica que explique suas razões e origens, é no pacote do fim de ano que surgem os amigos ocultos, amigos secretos e as variações mais modernas como o amigo da onça ou inimigo oculto. Há forma mais ignóbil de celebrar alguma coisa? Existe maneira mais impessoal de declarar ao seu sorteado o quanto você o considera? Se não, vejamos. Tudo começa com uma [ligeira ou declarada] coação. Sim, desconheço quem entre voluntariamente nessas ondas. Os que as organizam, estejam certos, o fazem também por coação. Ou por convenção social. Ou pra ser o bacana da turma. O que, no limite, é tudo a mesma coisa. Em seguida vem a fase do sorteio. Este pode ser feito à moda tradicional, com os nomes dos participantes lançados em papeizinhos e embaralhados em uma urna, geralmente improvisada; quando não dentro das mãos chacoalhantes de algum “voluntário”. Feita opção por este modo vintage, o sorteio é quase sempre executado na presença da maioria. Pode ser em algum bar. Ouvem-se gritos inexplicáveis a cada nome descoberto. Na última década, entretanto, vê-se um aumento considerável do sorteio em modo virtual. Encurta distâncias e, quiçá, os tempos. Os sites que oferecem este serviço (!) garantem que [i] você jamais sorteará seu próprio nome e [ii] ninguém conhecerá (pelo site) o resultado, até o dia da revelação. Obviedades que não interessam muito aos eleitores high tech. Se o pleito escolhido é então do tipo virtual, os gritos não são ouvidos e cada participante recebe um email com o nome do seu amigo oculto. Muitas vezes é depois do sorteio que se estipula um preço para os presentes. Há exceções e muita discussão. Trata-se de um limite sugerido para o valor máximo a ser gasto por cada membro, na tentativa de – de alguma forma – homogeneizar a ‘qualidade’ dos mimos. O valor mínimo, importante, fica a cargo do bom senso de cada um (e dos sentimentos mútuos também). Uma medida controversa, pode-se dizer. Se por um lado ela evita que um bom presente seja compensado com um par de meias marrons, um CD d’O Rappa ou outra tranqueira, por outro, não dá muita margem para que os participantes realmente queridos possam ganhar belos presentes. Mas é a regra do jogo. E, joga quem quer. Todos às compras. O momento doravante denominado REVELAÇÃO beira o insuportável. Diz a tradição da brincadeira que, antes de se revelar seu sorteado, cada participante deve se apossar da palavra e dar dicas para que os demais possam tentar adivinhar de quem se trata. Quem aqui não tem traumas infantis do momento que antecede a sua vez de dizer “o meu amigo secreto...”? Depois do terceiro ou quarto nome descoberto, originalidade e graça já migraram pro Sul. É muito simpático observar também que, seja nas confraternizações de empresas ou nas familiares, nem sempre o sorteado é um grande apreciado daquele que o sorteou. Aqui, sim, aqui e precisamente nesse lugar, reside um dos grandes males da humanidade “moderna”: a falsidade consciente. Seja em nome da coação, da aceitação sócio-corporativa e/ou da cara de pau, dão-se presentes, beijos e abraços como se merecidos fossem. Percebam. Rabugices à parte, se o foco estiver nos atos de dar e receber presentes, infiramos: não se aproveita muito dessas ocasiões. Se é gente não muito conhecida/querida, para que presentes? Não bastaria uma celebração rasa? Do contrário, por que cada um só pode manifestar seu agrado a UM sorteado? E por que nessa época? É como se existisse um momento de atração fatal onde todas as diferenças se apagassem. Tudo em nome da troca de um ano pelo outro, tão valiosa para muitos. 

[GuiCarloni / dez 2012]

Mãe Querida,

Há quase três anos, 30 de abril de 2017, vivenciamos juntas a triste partida do seu grande e inseparável companheiro, meu amado pai. Aos pr...